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Em tempos de excepcionalidade como nunca visto no último século, completamos hoje, dia 16 de julho de 2020,
exatos 120 dias de distanciamento social com o consequente fechamento das escolas públicas e privadas do país e do estado
do Rio de Janeiro. Como Fórum de Educação de Jovens e Adultos/RJ, esse longo cenário nos obrigou, em sua
materialidade, a atualizar nossas reflexões e ações com o intuito de interferir politicamente nos impactos que esse quadro
acarretou para os educandos e os educadores da Educação de Jovens e Adultos.
No tempo imediato do mês de julho, dois grandes desafios estão se colocando no âmbito da modalidade: o primeiro
diz respeito a quando e com que condições vamos ter o retorno às aulas presenciais; e o segundo se refere à questão em
torno da terminalidade dos educandos/as da EJA, que tem a sua letividade organizada de forma trimestral ou semestral,
dependendo da rede de ensino. Para esse debate buscamos interlocução com a Associação dos Estudantes Secundaristas do
Estado do Rio de Janeiro – AERJ.
Em relação ao primeiro desafio, o Fórum EJA-RJ e a AERJ reiteram que o retorno às aulas nesse momento, como
estão propondo alguns gestores, é impraticável. O quadro de contágio da COVID-19 não tem conseguido diminuir ou
mesmo se estabilizar e, conjugado a políticas de flexibilização do isolamento social autorizadas por gestores municipais e
estaduais, tem produzido um contexto de avanço, embora um pouco menos acentuado, nos números de mortes e contágios.
Dessa forma, consideramos que o retorno às escolas se coloca como iminente risco de vida para os estudantes e profissionais
de educação.
Em relação ao debate da terminalidade, o Fórum EJA-RJ tem feito muitas discussões, tendo realizado inclusive um
debate público virtual que contou com a participação de professores e gestores das diferentes redes de ensino do estado do
Rio de Janeiro, no sentido de repensar os encaminhamentos indicados em abril de 2020, quando as expectativas em relação
a um efetivo controle da pandemia e um possível retorno às aulas presenciais no segundo semestre eram mais consistentes.
Atualmente, no entanto, vivenciamos um contexto com novas demandas, onde a imprevisibilidade sobre os rumos do
controle da pandemia e de um retorno seguro às escolas se colocam como horizonte a longo prazo, inclusive com uma
perspectiva realista de retorno às atividades letivas presenciais somente em 2021.
Além disso, com base na escuta de professores e estudantes, promovido tanto pelo Fórum EJA, como pela AERJ,
temos apontado que a educação remota tem limites claros quanto ao acesso dos alunos às plataformas digitais,
especialmente os da EJA. Diferentes são as questões que permeiam esse não acesso, como falta de tempo e de estrutura
psicológica diante das demandas de sobrevivência, falta de equipamentos, dificuldades no acesso à internet e no manejo
das tecnologias, entre outros. Por essa razão, sob nosso ponto de vista, a educação remota contabilizada como carga horária
letiva e critério de aprovação/certificação aprofunda o abismo da desigualdade educacional que se apresenta no país.
A partir desse cenário, é premente a reflexão sobre os educandos que estão na fase de conclusão de sua
escolarização, isto é, que se encontram prestes a finalizar o Ensino Fundamental ou o Ensino Médio. Como proceder? É
uma difícil decisão, mas, pautados na justiça social e nas relações dialógicas e democráticas, entendemos que alguns
princípios devem balizar as deliberações das redes de ensino: 1) que se exerça uma escuta atenta e sensível de educandos,
educadores e equipes diretivas; 2) que se leve em consideração as dificuldades que a maioria dos educandos enfrentou na
realização e no acesso às atividades remotas; 3) que qualquer deliberação a ser tomada considere todos os educandos,
independente de terem ou não acessado as plataformas digitais, pois não podemos, e não devemos, cometer injustiças e
ratificar ainda mais as desigualdades educacionais historicamente vigentes em nosso país e em especial para os sujeitos da
Educação de Jovens e Adultos.
Rio de Janeiro, 16 de julho de 2020
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